Coluna Comunicando | Do Professor ao Dr. e a Derrocada Política de Paulo André
Não gosto de dizer “falta de aviso não foi”, mas desta vez, é a expressão que mais se encaixa. Em fevereiro, o COMUNICANDO trouxe a análise "Guinada de 180 graus", descrevendo a mudança do Professor Paulo André, conhecido por sua defesa das causas sociais e ambientais, para o Dr. Paulo André, agora abraçado ao bolsonarismo. Naquela oportunidade, a coluna destacou que a escolha, embora ousada, era arriscada. Afinal, viver é correr riscos, e o Dr. Paulo decidiu mirar nos 25% do eleitorado mais à direita.
A Aposta Falha
O problema, Dr. Paulo, é que em cidades como Estância, a ideologia raramente define os rumos da eleição. Quando aparece, ela favorece mais a esquerda. Além disso, a nacionalização de temas, como a polarização entre Lula e Bolsonaro, não costuma funcionar em contextos municipais. Estância não viu a eleição como uma briga entre “times”. O que realmente contou foi a percepção local. E aqui, os bolsonaristas não te enxergaram como o sucessor natural dos votos da direita. Assim, sua mudança ideológica acabou te distanciando de sua base anterior, sem conquistar o novo público.
O Crescimento que Não Veio
Mais intrigante ainda é que essa guinada não trouxe o retorno esperado, mesmo com um aumento significativo de recursos. Seu fundo eleitoral subiu de R$ 12 mil em 2020 para R$ 50 mil em 2024 – um aumento de mais de 316%! Ou seja, com quatro vezes mais dinheiro, o resultado foi o inverso do esperado. Em vez de crescer, sua votação caiu 20%, passando de 343 votos em 2020 para 275 votos em 2024. O que nos faz refletir: será que mais dinheiro realmente significa mais votos? No seu caso, claramente, não.
O fundo foi robusto, mas o resultado... nem tanto. Saiu de suplente para "não eleito". A quantidade de recursos não conseguiu compensar a falta de coerência ideológica, o que só mostra que, em política, a confiança do eleitor não se compra, ela se constrói com consistência e uma linha clara.
Lições da Derrota
Se há algo a aprender desta eleição, Dr. Paulo, é que mudanças radicais de posicionamento tendem a confundir mais do que atrair. A política, sobretudo em cenários locais, recompensa quem tem um objetivo definido, uma mensagem clara e uma conexão verdadeira com o eleitorado. Mudanças repentinas podem até parecer tentadoras, mas o risco de perder credibilidade é grande.
Lições importantes devem ser lembradas, como a mudança de posicionamento que, em 2020, custou caro a Márcio Souza, do PSOL. O famoso “sarapatel de coruja” não foi digerido pelo eleitorado, resultando numa queda dramática de quase 13 mil votos para menos de 3 mil. E quando as lições não são aprendidas, a cobrança tende a ser dura, como foi o caso.
Por fim, o salto do Professor para o Dr. não apenas lhe custou votos, mas arranhou sua imagem de forma difícil de reparar. A política tem memória, e reverter essa impressão negativa pode exigir mais do que um simples ajuste de rota — pode ser um desafio de reconstrução que levará tempo.
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